segunda-feira, 18 de maio de 2009

Lendas do Rio-Irencyr Beltrão II- O Arpoador








Este relato do Barriga me lembra uma época que não vivi, mas sonhei em viver:
O Arpoador anos 50.

" Quando comecei a frequentar o Arpoador em 1955 tinha 14 anos, morava na R. Conselheiro Lafaiete, em Copacabana, da minha janela via o pontão do Arpoador, (não tinha predios altos na nossa frente), a agua era muito clara na época com menos poluição e ondas maravilhosas com surfistas!!!!!!!.
Já se fazia Surf com pé de pato e prancha de madeira maciça .
LUIS VITAL (o Bisão), engenheiro e pescador submarino, construiu umas 5 ou 6 pranchas e deu para a galera do ARPOADOR.
Quando não dava para pescar de mergulho, principalmente quando quebrava na terceira laje, se misturavam surfistas de peito, de pranchinha e porta de igreja que não se chamavam de surfistas e sim pegadores de jacaré, porque? até hoje não sei.
Pranchinha era uma táboa de madeira pra pegar jacaré de peito.
O Arpoador era diferente de tudo, os frequentadores eram poucos, a maioria estrangeiros, descendentes de alemães, americanos etc...
Lá se fazia pesca submarina capturavam-se meros de 100kg, jamantas enormes sempre vinham de sul migrando para o norte, o Arpoador era passagem obrigatória, ao lado a praia do Diabo.
Era tudo muito assustador para época, poucos se aventuravam no mar.
Nas pedras um pequeno grupo liderado pelo Zé Gordo que mergulhava de cabeça fazendo um anjo do 3º andar da "piscininha" local do Arpoador com mais ou menos 10m de altura com 1,80m de profundidade, ou em pequenos buracos razos cheios de pedras pontudas e ouriços, os mergulhos eram no estilo do que se fazia em Acapulco, México.
Caramba estes caras viviam desafiando a natureza, com o mar virado surfavam de peito nas pedras, chamavam de Salcerar. Quando vinha onda se lançavam de peito sobre as pedras onde as ondas lavavam, aí voce tinha que ficar em pé sobre a pedra que secava, os melhores faziam descalço. Quando erravam passavam por cima da pedra e caiam do outro lado, imagina como ficavam de ouriço e tremendos cortes das caracas, os mais espertos usavam alpargatas, (sapatilha de sola de corda e cobertura de lona).



Para ser do Arpoador tinha que passar por tudo isso, surf sempre de onda grande.
O meu apelido veio dos mergulhos nas pedras, Zé Gordo que era o tope de mergulhos das pedras me apelidou de "barriguinha", dizia que quando eu mergulhava no ar tinha uma postura em que aparecia uma barriguinha.
Tambem tive que aprender a salcerar, depois lógico a fazer pesca submarina, só depois que fui ser surfista.
Nesta época ser do Arpoador era fazer parte de uma elite, só tive acesso a uma prancha quando todas quebraram, foi então que fiz tudo para ter a minha e influenciar uma nova geração que seriam os surfistas das 'MADEIRITES" .
Algumas pranchas de balsa e fibra apareceram no Arpoador trazidas por gringos que ali se aventuraram, mas sem sucesso, chegamos a pensar que nossas ondas eram muito rápidas e não daria certo com aquele tipo de prancha.
Arduino chegou a comprar de um gringo uma dessas pranchas mas depois de uma ressaca, as pedras estavam sem areia, na primeira tentativa em ficar de pé num dia de marolinhas caiu, a prancha foi sozinha até as pedras e quebrou em varias partes, acabando pelo menos provisoriamente o sonho de surfar numa daquelas pranchas.
Outras pranchas ocas apareceram no Arpoador mas ninguem conseguiu surfa-las, era outra técnica, nenhum bom surfista tinha passado por aqui, o que só aconteceria a partir do Peter Troy.

Não sei dizer quem foi o primeiro a surfar no Arpoador antes das portas de igreja, sei que tudo aconteceu nos anos 50, nomes importantes desta época foram Paulo Preguiça de prancha, Jorge Grande surfista de peito sem prancha, - registros fotográficos? - não era comum máquinas fotográficas naqueles tempos.


Um comentário:

Origem Retratos e Relatos do Surf disse...

Obrigado, me senti lá nas pedras rsrsrsrrs Legal saber como era realemente antes do surf e quando ele começou. Abraço Valeu. Cris