terça-feira, 19 de maio de 2009

Lendas do SUL- klaus e Jorge Gerdau Johannpeter


A CULTURA SURF SURGE NO SUL DO BRASIL

A BUSCA POR CONHECIMENTO

As primeiras pranchas que o Mário Pettini fez em 1963 para os irmãos Johannpeter eram uns monstros, pesadíssimos, sem shape, mas foi um negócio totalmente pioneiro, que resultou em uma busca ávida para entender como se fazia surf e onde encontrar equipamentos.

E assim começaram as viagens atrás de informações sobre o esporte que recém surgia.

RIO DE JANEIRO

Naqueles tempos era hábito gaúcho viajar no inverno para o Rio de Janeiro, e foi numa destas viagens que Klaus e Jorge Gerdau Johannpeter foram conhecer o que estava acontecendo por lá, onde também estava tudo começando. Encontraram alguns surfistas na praia do Arpoador e deles compraram pranchões de fibra de vidro, trazendo a novidade para Torres e iniciando assim a atividade do surf entre amigos e familiares.

Dos primeiros jovens que aprenderam a surfar com os irmãos pioneiros, foram Marco Antonio Silva, Roberto Bins e Martin Streibel, estes meninos são da primeira geração de surfistas do Rio Grande do Sul, que deram, nos primeiros campeonatos iniciados em 1968, shows de habilidade e beleza.

Marco Antonio Silva vence o Iº Campeonato Gaúcho em 1968, e Roberto Bins Júnior é o segundo campeão do estado em 1969, com Martin Streibel em segundo lugar neste mesmo ano.

Paralelamente, Fernando Sefton, que trabalhava no eixo Rio- São Paulo, visita o Arpoador fazendo amizade com os pioneiros do surf local, trazendo para a praia de Atlântida uma “Madeirite”, onde inicia os filhos Paulo, Ricardo e Betty a praticar o esporte, estes se tornaram grandes campeões de surf a partir de 1969, quando Betty recebe o título de campeã, sendo a primeira mulher a vencer um campeonato no Rio Grande do Sul, e no próximo ano desponta o jovem Paulo Sefton, que se consagra campeão gaúcho em 1970,71/72 e se torna pentacampeão em 1980, vindo a ter uma carreira brilhante de vitórias junto com seu irmão Ricardo.

Enquanto isso, Mário dá continuidade à fabricação das pranchas e experimenta com seus filhos Roberto, Luiz e Paulo as “Pettini” no mar de Atlântida.

Dai para frente nada mais seria como antes, o surf viria a ser a grande diversão familiar nos próximos verões, atraindo olhares interessados, novos adeptos e definitivamente mudando o conceito de pegar praia por todo o estado. A Cultura Surf surgia no sul do Brasil.

E os anos 60 só estão começando...
foto de klaus Johannpeter com os pioneiros.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Lendas do Rio-Irencyr Beltrão II- O Arpoador








Este relato do Barriga me lembra uma época que não vivi, mas sonhei em viver:
O Arpoador anos 50.

" Quando comecei a frequentar o Arpoador em 1955 tinha 14 anos, morava na R. Conselheiro Lafaiete, em Copacabana, da minha janela via o pontão do Arpoador, (não tinha predios altos na nossa frente), a agua era muito clara na época com menos poluição e ondas maravilhosas com surfistas!!!!!!!.
Já se fazia Surf com pé de pato e prancha de madeira maciça .
LUIS VITAL (o Bisão), engenheiro e pescador submarino, construiu umas 5 ou 6 pranchas e deu para a galera do ARPOADOR.
Quando não dava para pescar de mergulho, principalmente quando quebrava na terceira laje, se misturavam surfistas de peito, de pranchinha e porta de igreja que não se chamavam de surfistas e sim pegadores de jacaré, porque? até hoje não sei.
Pranchinha era uma táboa de madeira pra pegar jacaré de peito.
O Arpoador era diferente de tudo, os frequentadores eram poucos, a maioria estrangeiros, descendentes de alemães, americanos etc...
Lá se fazia pesca submarina capturavam-se meros de 100kg, jamantas enormes sempre vinham de sul migrando para o norte, o Arpoador era passagem obrigatória, ao lado a praia do Diabo.
Era tudo muito assustador para época, poucos se aventuravam no mar.
Nas pedras um pequeno grupo liderado pelo Zé Gordo que mergulhava de cabeça fazendo um anjo do 3º andar da "piscininha" local do Arpoador com mais ou menos 10m de altura com 1,80m de profundidade, ou em pequenos buracos razos cheios de pedras pontudas e ouriços, os mergulhos eram no estilo do que se fazia em Acapulco, México.
Caramba estes caras viviam desafiando a natureza, com o mar virado surfavam de peito nas pedras, chamavam de Salcerar. Quando vinha onda se lançavam de peito sobre as pedras onde as ondas lavavam, aí voce tinha que ficar em pé sobre a pedra que secava, os melhores faziam descalço. Quando erravam passavam por cima da pedra e caiam do outro lado, imagina como ficavam de ouriço e tremendos cortes das caracas, os mais espertos usavam alpargatas, (sapatilha de sola de corda e cobertura de lona).



Para ser do Arpoador tinha que passar por tudo isso, surf sempre de onda grande.
O meu apelido veio dos mergulhos nas pedras, Zé Gordo que era o tope de mergulhos das pedras me apelidou de "barriguinha", dizia que quando eu mergulhava no ar tinha uma postura em que aparecia uma barriguinha.
Tambem tive que aprender a salcerar, depois lógico a fazer pesca submarina, só depois que fui ser surfista.
Nesta época ser do Arpoador era fazer parte de uma elite, só tive acesso a uma prancha quando todas quebraram, foi então que fiz tudo para ter a minha e influenciar uma nova geração que seriam os surfistas das 'MADEIRITES" .
Algumas pranchas de balsa e fibra apareceram no Arpoador trazidas por gringos que ali se aventuraram, mas sem sucesso, chegamos a pensar que nossas ondas eram muito rápidas e não daria certo com aquele tipo de prancha.
Arduino chegou a comprar de um gringo uma dessas pranchas mas depois de uma ressaca, as pedras estavam sem areia, na primeira tentativa em ficar de pé num dia de marolinhas caiu, a prancha foi sozinha até as pedras e quebrou em varias partes, acabando pelo menos provisoriamente o sonho de surfar numa daquelas pranchas.
Outras pranchas ocas apareceram no Arpoador mas ninguem conseguiu surfa-las, era outra técnica, nenhum bom surfista tinha passado por aqui, o que só aconteceria a partir do Peter Troy.

Não sei dizer quem foi o primeiro a surfar no Arpoador antes das portas de igreja, sei que tudo aconteceu nos anos 50, nomes importantes desta época foram Paulo Preguiça de prancha, Jorge Grande surfista de peito sem prancha, - registros fotográficos? - não era comum máquinas fotográficas naqueles tempos.


sábado, 9 de maio de 2009

Lendas do Rio-Irencyr Beltrão-As madeirites









Irencyr Beltrão, o Barriga, me contou tantas estórias que merece um capítulo á parte do blog.
Vou começar pelas madeirites.
O Barriga fez as primeiras madeirites.
Segundo ele, nos anos 50 existia no Arpoador uma turma que usava umas pranchas muito interessantes.
Em lugar nenhum se fazia Surf com pé de pato e uma prancha de madeira maciça, com 2,5cm de espessura, feita de réguas de 15cm de madeira macho e fêmea, retangular e o bico envergado do tamanho de uma porta, 2,20cm de comprimento por 50cm de largura, em baixo uma quilha comprida de 60cm por 5cm de altura.
Eram chamadas de porta de igreja. A foto do Arduíno é com uma.

Quem construiu estas pranchas foi o LUIS VITAL (o Bisão) engenheiro e pescador submarino, que deu 5 ou 6 pro pessoal do Arpoador usar nos dias de ondas fortes, quando não dava pra pescar de mergulho.

Os melhores surfistas desta época eram o Gilberto Laport, Jorge Americano (Jorge Paulo Lemman) e Paulinho Macumba entre outros poucos.
Naquela época a maioria dos Surfistas vinham da pesca submarina, todos citados acima eram bons de mergulho, o Bruno Hermany foi bicampeão mundial de pesca submarina, e o Barriga foi campeão sul americano.
Daí uma intimidade com o mar que fez com que estes caras pegassem ondas enormes, terceira lage do Arpoador, Baixio de Copacabana.
Curioso que a origem do surf no Arpoador foi uma alternativa pra quando o mar estivesse grande demais pra pescar.

Ronaldo Mentira ganhou este apelido porque disse que pegou uma onda tão grande no Baixio de Copacabana que deu pra ver a Lagoa Rodrigo de Freitas....

Em 1958 Barriga ganhou uma das últimas porta de igreja do Paulinho Macumba (Paulo Bebiano), e começou a surfar nela. A prancha é a da foto do alto, no Arpoador.
Elas foram quebrando e ninguém sabia fazer novas.

Em 1959 Barriga foi na Ilha do Governador ver uma lancha e conversando com o construtor, surgiu a idéia de fazer um prancha mais resistente do que a porta de igreja.
A partir das informações dadas pelo Moacyr, o construtor naval, ele desenhou a primeira prancha de compensado Naval, a primeira madeirite, já com aparência de prancha de surf, bico e rabeta mais arredondados, quilha com borda de ataque e borda de fuga.

O Moacyr falou pra comprarem compensado, eles compraram uma folha grossa e cortaram pra fazer 3 pranchas, mas quando chegaram na Ilha descobriram que tinha que ser 3 folhas de compensado fino, pra dar a curva de fundo.
Começaram tudo de novo, e foi assim que fizeram as 3 primeiras madeirites do Arpoador.

O resto é história.
A serraria da Ilha virou referência, todo mundo ia fazer suas pranchas com seu Moacyr , ou na Francisco Otaviano, mas estas eram piores.
A próxima estória do Irencyr é das pranchas de fibra feitas com o Peter Troy.

Estes caras tiveram o privilégio de ter vivido numa época de descobertas.

fotos: Arduíno e Paulinho Macumba surfando de porta de igreja, Edgar de madeirite e pé de pato na mão, saindo dágua.
Jorge Paulo Lemman, Barriga, Arduíno e Mucio Palma no Pontão do Arpoador, de madeirite.




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